O antropomorfismo é o ato de atribuir características humanas a seres inanimados, objetos, animais ou até mesmo divindades e seres sobrenaturais. Ele acompanha a humanidade desde seus primórdios, manifestando-se muitas vezes nas religiões, mas aparecendo também na literatura e até mesmo em nossas falas cotidianas.
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Tópicos deste artigo
Resumo sobre antropomorfismo
- O antropomorfismo é a atribuição de características humanas a seres não humanos.
- Está presente em nosso cotidiano, aparecendo, principalmente, em expressões populares, religiões, mitos, literatura e na arte.
- A Bíblia nos traz uma visão antropomorfizada de Deus, pois isso facilita a compreensão e desperta sentimentos positivos nas pessoas.
- Na literatura, animais e objetos são antropomorfizados para criar recursos narrativos.
- Nas mitologias, deuses agem como humanos para explicar características humanas, ou têm forma humana para facilitar a compreensão das pessoas.
- Antropozoomorfismo é a junção de características humanas e animais, como na mitologia egípcia.
O que é antropomorfismo?
A palavra antropomorfismo vem dos termos gregos ánthropos (humano) e morphé (forma) e representa o ato de dar características humanas a seres não humanos, como animais, objetos, deuses e seres sobrenaturais, entidades e forças da natureza.
O antropomorfismo está presente em praticamente todas as culturas, mesmo as que já passaram pelo processo de desencantamento, pois até mesmo algumas expressões que utilizamos no cotidiano podem indicar o antropomorfismo. Por exemplo, quando dizemos que “a sorte sorriu para mim”, “o computador não quis funcionar” ou “o destino quis assim”, atribuímos características humanas, como sorrir ou querer, a objetos (computador) ou conceitos abstratos (sorte e destino).
Em geral, o antropomorfismo é utilizado como recurso para facilitar a compreensão das pessoas. Por ele, é possível criar explicações (mesmo que fantasiosas) para fenômenos desconhecidos ou áreas que não entendemos ainda muito bem, como as religiões e mitologias antigas faziam para explicar a natureza.
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Antropomorfismo na Bíblia
Na tradição judaico-cristã, o antropomorfismo é utilizado para criar as descrições de Deus. Mesmo sendo eterno, metafísico e perfeito, Deus é retratado com atributos humanos, com uma inversão retórica que diz que o ser humano foi criado por Deus à sua imagem e semelhança. No entanto, não é plausível fazer uma leitura literal desses recursos retóricos. É preciso entender que eles são recursos narrativos simbólicos empregados com a finalidade de ajudar as pessoas a compreenderem Deus.
Cabe enfatizar que o intuito da Bíblia não é reduzir Deus à figura humana, mas facilitar o entendimento e até mesmo provocar o sentimento de identificação entre as pessoas e a figura de Deus.
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Antropomorfismo na literatura
O antropomorfismo é um recurso estilístico muito empregado na literatura clássica e contemporânea e na escrita de roteiros de filmes. Por ele, é possível criar uma narrativa onde sentimentos, ações e ideias podem ser apresentados por meio de personagens antropomorfizados, sem que se precise enunciar a ideia de maneira direta.
Quando a ideia do que está acontecendo ou a ideia por trás da história é anunciada de maneira direta, pode haver a perda da qualidade estética, sobretudo em filmes. Em livros, nem tanto, pois o autor precisa explicar melhor a cena que está acontecendo. Para reduzir a necessidade de explicação e criar maior possibilidade de apresentação indireta das ideias, os escritores podem lançar mão de personagens antropomórficos.
Como exemplos de antropomorfismo no cinema e na literatura, podemos citar algumas animações, histórias infantis e fábulas. Pense, por exemplo, no filme “O Rei Leão”, pois os animais no filme falam, têm emoções e sentimentos humanos e vivem como humanos.
Na fábula “Chapeuzinho Vermelho”, o vilão é o Lobo Mau, um lobo que é representado com características humanas e apresenta um caráter moralmente ruim, e a moralidade é própria dos seres humanos. No conto de fadas “A Bela e a Fera”, a mobília adquire vida e características humanas. Em Pinóquio, um boneco de madeira adquire vida, sentimentos e desejos humanos e a sua consciência é representada por um grilo falante que tem também caraterísticas antropomorfizadas.

Fábulas clássicas, como “Os Três Porquinhos”, “A Raposa e as Uvas”, “A Cigarra e a Formiga”, “A Lebre e a Tartaruga”, apresentam histórias com animais falantes que vivem uma situação de aprendizado que remete a uma lição moral no fim. O clássico de fantasia escrito por Lewis Carrol no século XIX, “Alice no País das Maravilhas”, utiliza a antropomorfização de personagens, como o gato, o coelho atrasado, a lebre, a lagarta, entre outros.
Para destacar um exemplo mais contemporâneo, podemos lembrar do Chapéu Seletor de Harry Poter, um chapéu que fala e tem uma feição que lembra um rosto humano. Quando ele é colocado nos bruxos que iniciam os estudos na ecola de magia Hoghwarts, ele identifica a casa que esse jovem bruxo irá ocupar.
Antropomorfismo na mitologia
Antes de aprofundarmos, é preciso esclarecer que o que chamamos de mitologia são religiões. As religiões têm conjuntos de mitos, geralmente mitos fundadores (mitos da origem), mitos de herói e mitos escatológicos (mitos do fim).
As mitologias foram o campo de maior desenvolvimento do antropomorfismo na história. Em várias culturas antigas, os deuses e deusas são representados como seres com forma e comportamento humano, mesmo tendo poderes sobrenaturais ou sendo possuidores da imortalidade.
Se pegarmos as mitologias greco-romana e nórdica, por exemplo, os deuses são descritos com uma aparência similar à dos seres humanos e possuem sentimentos como inveja, ira, ciúmes, compaixão, amor, desejo, ou seja, uma moralidade humana. Isso acontece porque os povos antigos tentavam explicar o desconhecido por meio do que eles conheciam, que é a experiência humana.
Já as mitologias de alguns povos originários das Américas, inclusive do Brasil e de vários povos de origem africana, antropomorfizam a natureza, atribuindo características humanas ao Sol, à Lua, ou à chuva, por exemplo, ou atribuindo esses fenômenos a espíritos, como os orixás.
Diferença entre antropomorfismo e zoomorfismo

Enquanto o antropomorfismo é o recurso de atribuir características humanas a coisas e animais, o zoomorfismo é o oposto, ou seja, a atribuição de caraterísticas animais a seres divinos ou seres humanos. Isso se conecta, por exemplo, a contos de fadas onde o príncipe vira sapo por um feitiço, à fera, de “A Bela e a Fera”, ou a lendas, como o lobisomem.
São conceitos semelhantes, mas que caminham em direções opostas: um humaniza o objeto ou animal, o outro animaliza o humano, abrindo espaço para seu instinto e força natural.
Antropozoomorfismo
Embora a palavra seja complicada, o significado é a simples junção do antropomorfismo e do zoomorfismo. O antropozoomorfismo é a junção de partes humanas e animais em seres, em geral mitológicos. A esfinge, por exemplo, é a junção de um corpo de leão e a cabeça humana. Os deuses da mitologia egípcia, como Hórus (corpo humano e cabeça de falcão) e Anúbis (corpo humano e cabeça de chacal), são outros exemplos.
Fontes
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: História e grandes temas. São Paulo: Saraiva, 2006.
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA. Anthropomorphism. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/anthropomorphism