A Nexa Resources, mineradora com uma unidade instalada no Bairro Igrejinha, na Zona Norte de Juiz de Fora, foi alvo de denúncias, em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na última quinta-feira (3). A empresa se anuncia como uma das maiores produtoras de zinco do mundo, com receita líquida consolidada de US$ 2,6 bilhões, em 2023. A refinaria do metal em Juiz de Fora existe desde 1980, e, em 2021, produziu cerca de 81,1 mil toneladas do elemento químico.
Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora, João César da Silva, que trabalha na empresa há 40 anos, há vários casos de pessoas que se aposentaram em decorrência da contaminação por diversos metais pesados. Porém, a comprovação dessa contaminação depende de exames específicos que não são realizados de forma cotidiana pelos trabalhadores e pela população do entorno.
“Tem problema tanto dentro da fábrica como no entorno, no terreno, no solo. Alguns casos a gente pode comprovar e outros a gente tem suspeita fortíssima”, afirmou João César na audiência. Ele alega que a empresa costuma suspender trabalhadores que apresentam altos índices de metais pesados no sangue para realizar um outro exame logo quando eles voltam das férias, para dissimular a contaminação.
Sebastião Domingos de Souza, ex-trabalhador da Nexa, que hoje permanece afastado por motivos de saúde, perdeu até mesmo a renda do INSS, conforme relato na ALMG. “Exame de sangue descobriu uma sequela de zinco no sangue. Hoje o meu salário está sendo um aluguel de uma casa”. Ele relatou sangramento nasal, tosse seca, dor de cabeça, depressão, esquecimento, dor muscular e fraqueza.
O superintendente regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Carlos Calazans, disse que o órgão firmou um acordo com a Nexa em 2024, após uma greve na unidade da empresa em Três Marias (Região Central de Minas).
Ele prometeu acionar outros órgãos federais e municipais para estender um levantamento independente sobre as questões ambiental e sanitárias para outras instalações da empresa. “Não adianta eu resolver o problema em Três Marias e continuar com problema em Juiz de Fora e em Vazante (Região Noroeste), onde existe uma mina aberta”.
Outras acusações foram feitas de forma semelhante ao que aconteceu na Câmara Municipal de Juiz de Fora, em abril deste ano. Também repetindo o acontecido na cidade, a Nexa não participou da reunião em Belo Horizonte, mas enviou um ofício de 6 páginas, lido parcialmente pelo presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social, deputado Betão (PT)
“A Nexa acusa o recebimento do convite, mas informa que não poderá comparecer. A empresa reconhece a relevância da atuação da Comissão do Trabalho e reitera seu compromisso com a sociedade civil e os órgãos públicos. A justificativa é que a unidade de Juiz de Fora está dedicada aos preparativos de um simulado de emergência de barragens previsto para os dias 12 e 14. O simulado visa orientar a população da zona de auto salvamento e é um exercício anual, realizado em conformidade com a lei federal. A Nexa alega que a complexidade e relevância desse processo inviabilizam a participação plena e qualificada na audiência pública”.
O documento foi assinado por Fernando Demuner da Silva, diretor de operações, e José Maximino Tadeu Miras Ferron, gerente-geral da unidade de Juiz de Fora.
A Câmara criou uma comissão especial para acompanhar o caso, presidida por Laiz Perrut (PT), que alega suspeitas da planta da mineradora não ter auto de vistoria do Corpo de Bombeiros. Segundo ela, a comissão já solicitou uma visita formal às instalações da Nexa, assim como a apresentação de um plano de impacto e mitigação.
Ao final da reunião na ALMG, Betão apresentou pedido por uma investigação sobre a poluição do Córrego Igrejinha e por uma visita técnica às instalações da Nexa para averiguar a segurança.
