O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou que Moscou não aceitará um cessar-fogo na guerra contra a Ucrânia sem a suspensão das sanções ocidentais e a devolução dos ativos russos congelados no exterior. Em entrevista publicada nesta segunda-feira (7/7) pelo jornal húngaro Magyar Nemzet, Lavrov listou as principais exigências do Kremlin para iniciar uma negociação de paz, em meio a um conflito que já ultrapassa os três anos.
“As sanções antirrussas devem ser suspensas, todas as ações judiciais contra a Rússia devem ser retiradas e os bens apreendidos no Ocidente devem ser devolvidos”, disse o ministro.
Segundo ele, a Rússia está aberta a uma solução diplomática, mas rejeita qualquer proposta que leve apenas à “congelamento das linhas de frente”, o que, na visão do governo russo, permitiria à Ucrânia e seus aliados se reagruparem militarmente.
A posição russa inclui ainda exigências que dificilmente serão aceitas por Kiev, como o reconhecimento internacional da Crimeia e de quatro regiões ocupadas — Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia — como parte do território russo.
Esses territórios foram alvo de referendos organizados sob ocupação militar em 2022, amplamente condenados por outras potências mundiais por falta de legitimidade.
Exigências
Lavrov reiterou a narrativa do Kremlin sobre as “causas raiz” da guerra, expressão usada por Vladimir Putin desde o início do conflito no leste-europeu em fevereiro de 2022.
Para o governo russo, essas “causas” envolvem a desistência da Ucrânia de integrar a Otan e a retirada das tropas ucranianas de regiões hoje parcialmente ocupadas pela Rússia.
Durante as negociações realizadas em Istambul, no último mês, delegações russas e ucranianas trocaram memorandos com propostas para um possível cessar-fogo. No entanto, os documentos revelaram profundas divergências — inclusive sobre a própria definição do que seria uma paz “duradoura”.
Entre os pontos fixados pela Rússia para um eventual acordo, estão a desmilitarização da Ucrânia, a “desnazificação” do governo de Kiev, o encerramento dos processos judiciais contra o país, o fim das sanções internacionais e a restituição dos ativos russos congelados.
“A Rússia não busca uma pausa que permita ao governo ucraniano e seus apoiadores estrangeiros se reagruparem”, declarou Lavrov.
Segundo o ministro, qualquer cessar-fogo deve resultar em uma nova posição geopolítica que consolide as vitórias territoriais russas e afaste a Ucrânia de alianças militares ocidentais.
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Últimos desdobramentos da guerra
- A Rússia tem ampliado sua presença militar no leste da Ucrânia. O avanço é sustentado por brigadas móveis e uso tático de guerra eletrônica — o constante uso de drones.
- A guerra tem se tornado cada vez mais tecnológica. Em junho, a operação Teia de Aranha destruiu aviões militares russos em solo.
- O governo Trump suspendeu temporariamente o envio de sistemas de defesa para os ucranianos. A justificativa foi proteger os estoques norte-americanos.
- Trump conversou com Putin na última quinta-feira (3/7) e, no dia seguinte, falou por telefone com Volodymyr Zelensky. O norte-americano declarou estar “decepcionado” com a posição do líder russo, que rejeitou pedidos por cessar-fogo.
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Crise na Rússia após três anos de sanções
A guerra entre Rússia e Ucrânia já dura três anos. Desde o início da invasão em larga escala ao território ucraniano, Moscou sofre pesadas sanções econômicas e políticas.
Desde 2022, mais de 17 pacotes de sanções foram aprovados pela União Europeia e seus aliados, atingindo setores estratégicos como energia, finanças, transporte e defesa.
O crescimento econômico russo segue abaixo do potencial pré-guerra, com projeções de estagnação até pelo menos 2027.