Por meio da 8ª Promotoria de Justiça da Comarca de Juiz de Fora, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) apura as pretensões construtivas no Centro de Educação Física e Esporte (Cefe) que pertencia ao Colégio Metodista Granbery. O local é tombado pelo Decreto Municipal 16.754/2024 desde agosto do ano passado, mas uma área de 13 mil metros quadrados foi adquirida em leilão judicial em abril deste ano pela empresa Soip Negócios Imobiliários Ltda, que tenta aprovar projeto de construção junto ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac). O assunto chegou a entrar em pauta no dia 19 de maio, mas houve pedido de vistas. O tema iria retornar à baila em reunião extraordinária no dia 26 do mesmo mês, mas o encontro foi cancelado, por motivos não divulgados. Segundo a Funalfa, não houve retorno da discussão no encontro ordinário desta segunda-feira (7) e não há previsão de quando haverá novo debate.
O procedimento foi aberto pela Curadoria de Patrimônio Histórico do MP no dia 15 de abril e corre sob sigilo, portanto, detalhes não foram divulgados. O órgão espera respostas, inclusive da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). “A 8ª Promotoria da Comarca de Juiz de Fora informa que instaurou a Notícia de Fato para apuração do caso e que, no momento, aguarda retorno de ofício expedido ao Comppac/Funalfa, bem como à Secretaria de Desenvolvimento Urbano com Participação Popular (Sedupp), no qual foi solicitado cópia integral do procedimento administrativo, além de informações sobre o projeto de construção, em especial no que se refere ao cumprimento das limitações impostas pelo Decreto Municipal 16.754/2024”, informou o MP nesta segunda.
Nesta mesma data, a Associação dos Moradores do Bairro Granbery se manifestou reforçando sua posição a favor da preservação do Centro Esportivo do antigo Colégio Granbery. A entidade teme que a Soip, compradora de parte da área, consiga aprovação para construir duas torres no local – uma residencial de 23 andares e outra de 13 andares de escritórios e quatro com garagem, conforme apontou a presidente da associação, Fátima Barcellos. “Nossa posição é totalmente oposta à da Soip. Queremos que o decreto pelo qual tanto lutamos e que foi assinado pela prefeita seja cumprido, com todas as cláusulas, que não preveem aumento da volumetria. Nossa pressão é para que o decreto seja respeitado.”
Em nota enviada à Tribuna na última sexta-feira, a Soip afirmou ter construído o projeto em conjunto com a comunidade, “conciliando o desenvolvimento urbano sustentável com preservação histórica e benefícios sociais concretos”, o que foi rebatido pela Associação dos Moradores, que diz não ter participado. A empresa assegura, ainda, ter compromisso com o meio ambiente, por meio da preservação do bosque, a construção de piscinas de contenção e sistema de drenagem moderno em resposta aos alagamentos recorrentes na esquina das ruas Sampaio e Batista de Oliveira, além de ampla praça pública com equipamento de uso coletivo, aberta à comunidade. “O meio ambiente histórico será preservado por meio da restauração do edifício Charles Long e sua transformação em peça central do novo espaço público, criando um marco da memória do colégio. Nosso projeto contempla integração social completa, haja vista que a área total adquirida é de 13 mil metros quadrados, e a área destinada ao empreendimento imobiliário é de apenas três mil metros quadrados, o que equivale a apenas 23% do total, restando 10 mil metros quadrados ou 77% para a comunidade.”
As justificativas, entretanto, não convenceram os moradores, que afirmam sofrer com especulação imobiliária no bairro. “Não comportamos mais construções. As redes de água e esgoto são antigas, estão sempre vazando. E as de drenagem não suportam as chuvas, temos problemas com alagamentos e com deslizamentos”, relembra Fátima, citando um prédio invadido pela terra que escorregou de um barranco na Rua Professora Carolina Coelho, em 5 de janeiro deste ano. Outra preocupação, segundo ela, é com os gargalos no trânsito do bairro. “A área do campo de futebol e do bosque é o único respiro que temos, não só no Granbery, mas em toda aquela região do Centro. Somos 22 mil moradores e contamos com a sensibilidade da prefeita para atender os anseios da comunidade, Queremos que o decreto seja respeitado.”
No projeto da Soip, o campo de futebol “receberá uma grande reforma, com a criação de novas quadras e instalações esportivas modernas, além da criação de espaços públicos dedicados ao esporte e lazer”. A Tribuna questionou a PJF sobre os problemas expostos pela Associação dos Moradores em relação ao Granbery, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
Decreto de tombamento no Granbery
No Decreto Municipal 16.754/2024, a Prefeitura destaca o valor histórico e cultural que envolve o Complexo Esportivo e o edifício Charles Alexander Long, precursor do Bairro Granbery e representante do estilo arquitetônico de ecletismo. Também considera serem “desde a sua construção, bens dedicados a uma das mais tradicionais instituições educacionais do município”. Para o Executivo municipal, o local é “importante elo de pertencimento e solidariedade da comunidade do Granbery”.
Em relação ao edifício Charles Alexander Long, ficam preservadas as fachadas, a volumetria, a escada em madeira e o piso em ladrilho hidráulico presente no pavimento térreo da edificação. O campo de futebol deverá ser preservado para este fim, sendo permitidas apenas possíveis adequações, como no tipo de gramado e na arquibancada. Já o bosque, permanece como “área destinada à preservação ambiental e respiro urbano, que só poderá receber equipamentos de pequeno porte/mobiliário que estimulem o convívio e permanência das pessoas na região”. Ainda conforme o decreto, as demais áreas do complexo poderão receber novas instalações/infraestruturas, desde que estas se destinem à beneficiar o uso esportivo do local. O muro que delimita a área esportiva não está protegido, sendo permitida sua alteração e modificação mediante prévio exame e aprovação pelo Comppac.