Poderia ter ficado por aí, mas logo surgiu um farsante: outro homem se passando por ele, espalhou desinformação dizendo ter sido multado pelo órgão e começou a pedir dinheiro em redes sociais, o que nunca aconteceu. Em pouco tempo, a narrativa virou: os órgãos ambientais passaram a ser tratados como vilões, e a mentira ganhou força – levando até o verdadeiro autor do resgate a ter que se pronunciar.
Essa inversão é perigosa, especialmente em tempos em que vemos um PL que fragiliza o licenciamento ambiental passar na calada da noite, desmontando um dos mais importantes princípios dos órgãos ambientais.
A presença da baleia-franca na costa brasileira não é apenas uma sorte da natureza — é fruto de décadas de trabalho técnico, fiscalização e políticas públicas que vem ajudando a recuperar uma espécie ameaçada de extinção, em uma área extremamente sensível para a mesma. E essa área, A APA da Baleia-Franca, criada justamente para proteger essas águas, é constantemente ameaçada: são pressões para liberar o turismo embarcado em áreas sensíveis, o que pode causar estresse e afastamento das mães com filhotes; por projetos de expansão portuária e infraestrutura costeira, como dragagens e aumento de tráfego de navios; e por tentativas recorrentes de flexibilizar seu plano de manejo, reduzindo restrições ambientais.
Tudo isso enfraquece o papel da APA e coloca em risco não só as baleias, mas toda a biodiversidade que depende desse território protegido.
É fácil se solidarizar e dizer que ama os animais — mais difícil é entender o trabalho silencioso e persistente das instituições que existem justamente para protegê-los todos os dias. Muitas vezes nos voltamos contra esses órgãos porque eles não têm a agilidade a que as redes sociais nos acostumaram. Esquecemos que atuam sem holofotes, sem vídeos virais e com muito menos recursos do que deveriam. Ser “burocráticos” faz parte de sua missão, porque viver em sociedade significa que não temos o direito de fazer o que quisermos em ambientes públicos e ecossistemas compartilhados.
No fim das contas, o episódio da baleia revela algo mais profundo — o mesmo que se evidencia com a aprovação do PL da Devastação: a fragilidade do debate ambiental em tempos de desinformação. Órgãos ambientais passam a ser vistos como vilões ou entraves, enquanto os interesses corporativos são tratados como soluções. E isso não apenas enfraquece quem deveria zelar pelo bem comum, como também abre espaço para farsantes e oportunistas se aproveitarem do caos informativo, como aconteceu no próprio caso da baleia.