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23/07/2025

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Alunos e professores estão usando IA na escola. Quando é preciso sinalizar?


Desde que as inteligências artificiais generativas como ChatGPT, Google Gemini, Claude entre outras, se popularizaram, elas também encontraram um jeito de entrar na escola. Muitos professores viram nessas ferramentas uma possibilidade de otimização de tempo, de apoio em tarefas repetitivas ou até mesmo como um auxílio para pensar em atividades escolares. 

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Mas não foram só eles que descobriram essas ferramentas. Alunos igualmente perceberam a quantidade de tarefas que podem ser feitas com apenas alguns simples comandos. Com esse cenário, a escola se vê em um novo dilema: como sinalizar que algo foi feito com a ajuda da inteligência artificial? 

“Há uma discussão que é anterior a essa protocolização ou sinalização de IA, que é o aluno, sobretudo de fundamental 2 e ensino médio, entender quais são os limites da IA generativa”, afirma Fábio Campos, pesquisador do TLTL, o Laboratório de Aprendizagens Transformadoras com Tecnologia, da Universidade de Columbia (Estados Unidos).

O educador argumenta que ferramentas de IA generativa geralmente padronizam muitos elementos, homogeneizando a argumentação, algo não desejável quando se pensa em formar cidadãos com visão ampla sobre mundo. Antes de usar tais ferramentas, o educador afirma que ensinar essa visão crítica é ainda mais imprescindível. Ele avalia que às vezes, por mais que o conteúdo feito por IA esteja correto, ele pode ser apresentado de uma maneira rasa ou em um estilo inadequado. 

A pesquisa “Inteligência Artificial na Educação Superior”, realizada em 2024 pela ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior) e Educa Insights, mostrou que 7 em cada 10 estudantes universitários ou vestibulandos usam IA para estudar. O levantamento ouviu 300 estudantes e destacou que 71% deles usam alguma ferramenta de inteligência artificial na rotina de estudos. 

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Em um outro estudo feito pela Chegg.org, promotora do Global Teacher Prize, premiação que reconhece professores inovadores ao redor do mundo, os universitários também aparecem entre os mais entusiasmados com essas ferramentas. A pesquisa foi feita com 11 mil estudantes de 15 países, e os estudantes brasileiros disseram utilizar IA para entender conceitos ou matérias (59%), pesquisar conteúdo para trabalhos ou projetos (52%) ou gerar rascunhos de trabalhos (53%).

Deve-se criar um protocolo?

Para Arthur Galamba, cofundador do Collabits e professor no King’s College London, universidade localizada na Inglaterra, estabelecer um protocolo também pode engessar as aprendizagens e a inovação caso os critérios sejam muito rígidos. Como alternativa, ele sugere que a gestão apresente diretrizes flexíveis que ajudem professores e alunos a compreenderem boas práticas de uso da IA. “As diretrizes podem incluir exemplos de quando e como a IA pode ser utilizada de forma ética e produtiva, além de incentivar discussões sobre os limites da sua utilização”, disse. 

Fábio propõe que essas ferramentas não sejam tidas como proibidas, mas que sejam inseridas na rotina escolar de modo que os estudantes possam aprender como manuseá-las. “Deixar o aluno fazer a experimentação para a escola dizer: ‘isso não é proibido, isso é tecnologia’. Tecnologia a gente não tem medo, a gente discute, a gente usa e faz o melhor uso dela”, destaca. 

Pedro Siciliano, diretor da Teachy, uma plataformas de inteligência artificial voltada para a educação, com possibilidades de criação de planos de aulas e outros materiais tanto por professores quanto por alunos, argumenta que é importante que a escola entenda qual o melhor momento de introduzir a IA, entendendo quando faz sentido pedagogicamente. 

“É importante que alunos sejam empoderados a criar com AI e aprender a utilizá-la. Mas isso tem que ser feito de uma forma responsável, sob controle do professor e da escola. Por isso, é muito importante existirem diretrizes”, afirma. 

Contudo, ele destaca que essas diretrizes precisam ser estabelecidas de maneira transparente com os alunos, para que eles possam reconhecer criticamente em que momentos não usar IA pode ser mais benéfico e vice-versa. 

Quais são os desafios éticos que a escola ainda está sujeita ao usar IA? 
Arthur Galamba, King’s College London
Plágio e autoria: A linha entre o que foi gerado pela IA e o que é de autoria do aluno pode ser tênue.

Desenvolvimento cognitivo: Se os alunos dependerem excessivamente da IA, podem perder a oportunidade de desenvolver habilidades essenciais como pensamento crítico e argumentação.

Acesso desigual: Nem todos os alunos podem ter acesso à mesma tecnologia, criando disparidades.

Transparência e avaliação: Como os professores podem avaliar de maneira justa o aprendizado dos alunos se não souberem até que ponto a IA foi utilizada?

Arthur também defende que é importante que a gestão seja transparente a respeito desses protocolos, de uma maneira que promova uma cultura de honestidade acadêmica.

“A recomendação pode ser que os estudantes mencionem de maneira clara, em um rodapé, nota de rodapé ou declaração introdutória, quando um conteúdo foi produzido com auxílio de IA”, sugere. Uma nota simples que informe que o trabalho foi revisado ou aprimorado usando inteligência artificial generativa, salientando que a produção intelectual foi do aluno, pode ser um caminho. 

“Além disso, é fundamental educar os alunos para entenderem que a IA deve ser uma ferramenta de apoio, e não um substituto para a produção intelectual”, ressalta. 

Tudo precisa ser sinalizado? 

Algumas funções de inteligência artificial já circulam em programas amplamente utilizados na sala de aula, sem que as pessoas façam essa associação. O sistema de reconhecimento e correção de palavras do editor de texto Word, por exemplo, é uma delas. Galamba afirma que, nesses casos pontuais, em que a IA foi usada de maneira assistencial, não é necessário. 

Em outros casos que envolvam uma produção mais central da IA durante o processo, a recomendação é que haja sinalização. 

O mesmo que funciona para os alunos funciona para os professores? 

Assim como estudantes estão usando IA para pensar em seus trabalhos, tirar dúvidas ou elaborar planos de estudos, professores ao redor do mundo também fazem uso de plataformas como ChatGPT ou Gemini em um processo de ideação. 

Fábio avalia que, caso seja necessário declarar o uso de IA, as regras devem se aplicar a todos, tanto alunos quanto corpo docente. Contudo, ele considera que, em estágios iniciais, quando o professor dialoga com a máquina para planejar seu plano de aula ou tratar de questões a serem feitas em uma atividade, não há a necessidade de explicitar que parte do processo foi feito usando inteligência artificial. 

“Não importa que seja IA. Para eu poder criar uma atividade de uma ou duas horas com alunos, eu recorro a internet, não recorro? Pego inspiração em outras coisas, não é verdade? Então, por que é só a inteligência artificial que na hora da inspiração eu precisaria declarar?”, questiona. 

Ou seja, se o produto final não foi desenvolvido por IA, o educador avalia que não há a necessidade de sinalização. Ele aponta que esta acaba sendo uma reflexão também sobre autoria, não porque algo foi feito a partir da inteligência artificial, mas pelo entendimento do que é uma produção intelectual autoral. 

Além de reforçar a necessidade de criação de momentos de reflexão sobre os impactos da IA nas aprendizagens, Arthur também aponta que é necessário desenvolver uma política institucional de boas práticas que mostrem quando e como declarar o uso, além de um código de conduta que traga orientações claras sobre o uso ético dessas ferramentas. 

“O mais importante é garantir que a IA seja vista como um recurso pedagógico e não como um atalho para evitar o esforço intelectual”, ressaltou o docente.


Em resumo

  • Flexibilidade sobre rigidez: Evitar regras engessadas; preferir diretrizes adaptáveis com exemplos de uso ético e produtivo.
  • Experimentação supervisionada: Permitir o uso crítico e guiado da IA, integrando-a de forma pedagógica, sem proibições.
  • Transparência no uso: Exigir declaração quando a IA tiver participação central em trabalhos (ex.: nota de rodapé). Uso assistencial (ex.: corretor ortográfico) pode ficar implícito.
  • Autoria versus ferramenta: Deixar claro que a IA é um apoio, não substituto do pensamento crítico, e discutir o que é produção autoral.
  • Políticas institucionais claras: Criar um código de conduta que aborde plágio, acesso desigual e avaliação justa, aplicável a alunos e professores.






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