O projeto Histórias Além Muros, idealizado pela produtora cultural e escritora Daniela Chindler, nasceu em 2021, com o intuito de estimular a leitura entre as mulheres presas no presídio feminino Talavera Bruce, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Semifinalista do Prêmio Jabuti em 2024 na categoria Inovação, o projeto ganhou, na noite desta terça-feira, no Rio, o Prêmio Faz Diferença categoria “Livros”.
— Hoje, da minha janela, eu vejo nuvens no céu quadrado. Às vezes eu vejo pássaros, bem raro. Da minha janela, eu vejo algumas árvores, as folhas se mexendo, com sorte eu sinto um pouco do vento quando bate. Eu quero ver da minha janela a minha família, o meu lar, e a minha liberdade saindo da janela e batendo na porta — começou o discurso da escritora, que iniciou seu percurso de difusão da literatura em 1988, à frente do projeto voluntário Oficina de Histórias na comunidade do Vidigal, no Rio.
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Daniela também aproveitou para agradecer e reconhecer o trabalho dos dois escritores indicados na mesma categoria: Adélia Prado e João Silvério Trevisan. Ela dedicou o prêmio a eles.
— As leitoras e nós, mediadoras de leitura, dedicamos esse prêmio aos dois. É emocionante estar aqui, na categoria Livros, com uma ação de incentivo de leitura voltada para mulheres em situação de privação de liberdade. No livro “Correspondência”, o poeta Bartolomeu Campos de Queirós escreveu: “As palavras sabem muito mais longe, em um lugar para onde pouca coisa chega”. Muito obrigada — completou.
Daniela recebeu o prêmio, no palco do Teatro Copacabana Palace, das mãos dos colunistas do GLOBO Vera Magalhães e Merval Pereira, presidente da Academia Brasileira de Letras.
Conheça o projeto Histórias Além Muros
Das 400 presidiárias do Talavera Bruce, cerca de 150 frequentam o Histórias Além Muros. O número não é maior por dificuldades logísticas inerentes ao cárcere. Por segurança, a sala de leitura só pode receber de 12 a 15 mulheres por vez (os atendimentos ocorrem três vezes por semana, de manhã e à tarde). Os agentes penitenciários são responsáveis por escoltar as detentas das celas até o local — elas não têm acesso livre às áreas de lazer. No entanto, o número de funcionários é insuficiente.
Apesar dos percalços, o Histórias Além Muros tem dado frutos. Daniela Chindler conseguiu implantar uma iniciativa parecida na Unidade de Custódia e Reinserção Feminina de Marabá, no Pará, no ano passado. E um outro estado já mostrou interesse pelo projeto.
O Faz Diferença é uma apresentação de O GLOBO e Firjan SESI, com apoio da Naturgy e da Petrobras.