As pessoas idosas não são avessas a nada. As pessoas idosas têm o direito de viver. Elas podem muito. Podem muito mais do que imaginam. Elas podem muito mais do que a sociedade permite. Sociedade que exclui, sociedade que discrimina também pela idade. As pessoas idosas podem usufruir de tudo o que há na vida. O que falta a elas são oportunidades. Reconhecimentos. Investimentos. Mudança de cultura, de uma sociedade etarista para uma sociedade que aposte na (nossa) capacidade humana de existir sem levar em consideração a idade das pessoas. No mundo tecnológico em que estamos, é preciso abrir as portas para a entrada de um grande contingente de pessoas idosas que estão colocadas à margem de toda essa engenharia tecnológica em que vivemos. Principalmente no domínio do meio digital.
Existimos virtualmente, e as pessoas idosas também. Assim, como a maioria da população brasileira, que encontra-se num índice elevado de analfabetismo, de pouca familiaridade com a instrução formal; um percentual considerável de pessoas idosas mal sabe ler e escrever, são analfabetos funcionais. Como, então, manusear os mouses dos computadores? Como dialogar com os algoritmos? Como ter autonomia para direcionar as teclas dos caixas eletrônicos nas agências bancárias? Não devemos, de antemão, por mero preconceito e discriminação instituída, afastar o mundo tecnológico de ser uma conquista das pessoas idosas.
Considerando que as velhices são múltiplas e diversas, boa parte das pessoas idosas, as que tem mais recursos financeiros e educacionais, fica bem à vontade para existir nesse ambiente virtual da vida, com todas as possibilidades de comunicação existente. O que ficou evidente no período da Covid, quando esses idosos em condições de velhice diferenciada da maioria das outras pessoas idosas, é que utilizaram para valer os instrumentos da tecnologia digital para o convívio social e familiar.
O desafio político a ser enfrentado pela cidade, mais um, é oferecer atividades, como vários cursos e workshops, que promovam a inclusão social das pessoas idosas, garantindo o acesso delas a um grau maior de cidadania e de civilidade. É possível, sim, nesse espaço virtual de comunicação, a aproximação das gerações, começando, muitas das vezes, dentro de casa. Quando o neto passa para a sua avó os comandos para uma boa navegação na internet. A curiosidade e a imaginação voam longe demais, independentemente da nossa idade.
O que a gente precisa preservar é para que os nossas horas que são só nossas, não sejam roubadas de nós, diante de um eterno e cansativo monólogo-solidão, de alguém do nosso convívio diário nos encontros familiares. Não há democracia sem o acesso das pessoas idosas, de todas as pessoas, no universo das tecnologias da informação. As pessoas idosas, portanto, respondendo à provocação da pergunta-título dessa coluna, não são avessos à tecnologia. Esse direito e tantos outros serão conquistados quando as pessoas idosas efetivamente estiverem incluídas no planejamento municipal e fizerem parte ativa do orçamento público da cidade.
Por enquanto, o que temos são somente narrativas. Temos pouco de concreto de ações estruturantes para melhorar as condições de vida das pessoas idosas que fizerem muito pela cidade e que podem continuar fazendo muito por ela. São mais de 100 mil pessoas idosas que desejam ter uma cidade melhor para o seu envelhecimento e para o envelhecimento de todos nós, que estamos nessa caminhada. O direito às tecnologias informacionais com todas as suas expressões é um parâmetro fundamental de cidadania para o fortalecimento das relações democráticas entre governo e sociedade, entre a gestão pública e a comunidade, aqui, direcionada para as pessoas idosas.