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22/07/2025

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Educação midiática precisa ser traduzida para diferentes faixas etárias e contextos escolares


“Quem aqui já caiu em alguma fake news? E quem costuma assistir a vídeos no YouTube todos os dias?” As perguntas feitas por Merve Lapus, vice-presidente da organização norte-americana Common Sense, fizeram quase toda a plateia levantar a mão no auditório do 3º Encontro Internacional de Educação Midiática, realizado em Brasília (DF), nesta quinta-feira (22).

Promovido pelo Instituto Palavra Aberta, o evento deu início a dois dias de programação com especialistas, educadores e gestores públicos reunidos para debater caminhos que possam ampliar a educação midiática no Brasil.

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Convidado como um dos especialistas internacionais, Merve apresentou a atuação da Common Sense, organização sem fins lucrativos com sede em São Francisco, nos Estados Unidos, que oferece conteúdos gratuitos para apoiar famílias, escolas e governos no uso consciente da tecnologia. A entidade já impactou mais de 1,4 milhão de educadores com avaliações de aplicativos, filmes e jogos, além de oferecer planos de aula gratuitos sobre cidadania digital, alfabetização midiática e bem-estar infantojuvenil.

Pai de duas adolescentes, Merve conhece de perto os dilemas que estuda – muitos deles fazem parte da sua própria rotina familiar.

Currículo baseado em evidências

A Common Sense desenvolveu, em parceria com o Center for Digital Thriving da Harvard Graduate School of Education (EUA), um currículo gratuito de cidadania digital. O material também aborda outros temas relacionados, como privacidade, segurança e cyberbullying.

A proposta está fundamentada em mais de 150 estudos internacionais, com contribuições de instituições como o RAND Corporation, a LSE (London School of Economics) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O levantamento demonstra que a educação midiática, quando inserida de forma estruturada nas escolas, pode reduzir a vulnerabilidade à desinformação, melhorar o bem-estar emocional dos estudantes e aumentar a capacidade de análise crítica sobre conteúdos digitais.

No Reino Unido, o currículo foi aplicado em quatro escolas com perfis variados – rurais, urbanas e periféricas – envolvendo cerca de 200 estudantes com idades entre 6 e 16 anos. De acordo com a pesquisa qualitativa e quantitativa conduzida pela LSE, após seis semanas de uso do material, todos os alunos alcançaram o nível “proficiente” em alfabetização em inteligência artificial. Também foram observados avanços significativos na compreensão de temas como segurança online, uso ético da tecnologia e identificação de fake news.

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Conteúdo adaptado

O currículo da Common Sense traz atividades práticas e reflexivas, adaptadas às diferentes faixas etárias. Nos anos iniciais, propõe perguntas como “Por que alguém alteraria uma imagem digital?”, introduzindo noções como persuasão, intenção e manipulação de conteúdo. A partir dessas provocações, os alunos aprendem a reconhecer que nem tudo o que veem online é neutro ou verdadeiro, e começam a desenvolver vocabulário e senso crítico desde cedo.

Com adolescentes, as lições avançam para questões mais complexas, explorando valores pessoais, como autenticidade, equilíbrio, gratidão, justiça e empatia. O objetivo é criar conexões entre o que os jovens acreditam e o que consomem online. “É um convite para que comparem seus valores com o que os algoritmos oferecem e decidam, com consciência, o que desejam manter ou recusar”, explicou Merve.

Ele reforça que o currículo não é apenas sobre ensinar tecnologia, mas sobre ajudar os jovens a entender como suas escolhas digitais impactam sua identidade, bem-estar e relações. “Não queremos dar respostas prontas, e sim provocar boas perguntas. A ideia é que os alunos construam sentido com base em sua própria vivência”, afirmou.

Merve também destacou que as atividades são flexíveis e pensadas para se conectar ao cotidiano dos estudantes. “Os educadores devem se sentir à vontade para adaptar os conteúdos conforme suas realidades. O mais importante é manter o espaço de escuta e reflexão. A educação midiática precisa ser significativa para quem vive os dilemas do mundo digital todos os dias.”

“Cultura da dopamina”

O diretor da Common Sense alertou para os efeitos dos designs digitais viciantes, mecanismos usados por plataformas para manter os usuários engajados por meio de estímulos constantes, como curtidas, notificações e vídeos curtos. Esses estímulos ativam a dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de prazer e motivação, fazendo com que o cérebro busque repetidamente comportamentos recompensadores.

A lógica da “cultura da dopamina” tem sido analisada por diversos pesquisadores e autores contemporâneos. Um dos que desenvolvem essa ideia é o historiador Ted Gioia. Em seu ensaio “How to Break Free from Dopamine Culture” (Como se Libertar da Cultura da Dopamina), ele explica como aplicativos e redes sociais são projetados para manter os usuários em constante estado de estimulação, acionando continuamente o sistema de recompensa do cérebro. 

Segundo Gioia, esse ambiente digital mina a capacidade de foco e concentração, reforça ciclos de prazer imediato e dificulta o engajamento em atividades mais profundas, como leitura, estudo ou criação artística.

“Hoje, você pode assistir a centenas de vídeos por dia sem sair do mesmo aplicativo. O YouTube, por exemplo, recebe mais de 500 horas de vídeo por minuto, segundo o relatório Data Never Sleeps (“Dados nunca dormem”), da empresa Domo. Esse excesso de conteúdo exige habilidades novas – e precisamos ensiná-las”, reforça Merve.

Assista ao evento, trasmitido pelo YouTube do Canal Futura

Famílias e escolas

Pai de duas meninas, o palestrante compartilhou que muitos dos dilemas digitais que estuda também fazem parte da sua rotina em casa. “Minhas filhas, hoje com 12 e 15 anos, cresceram enquanto eu desenvolvia esse trabalho. Tudo o que criamos na Common Sense, eu testo com elas no dia a dia”, contou.

Para ele, a base da educação digital está no diálogo constante. “Não espero que algo dê errado para conversar com minhas filhas. Falo com elas todos os dias sobre o que estão vendo, sentindo e como usam a tecnologia. Quero que saibam que podem confiar em mim – mesmo quando cometem erros.”

Com essa vivência pessoal, ele defende que pais e educadores sejam orientadores, não censores. “Se os jovens acharem que só estamos ali para apontar falhas, vão se afastar. Mas se souberem que estamos dispostos a ouvir e orientar, eles se abrem. É isso que também buscamos nas escolas: uma abordagem acolhedora, que promova confiança e autonomia.”

Conteúdo adaptado para cada fase da vida

O currículo da Common Sense traz atividades práticas adaptadas para cada faixa etária. Nos anos iniciais, propõe perguntas como “Por que alguém alteraria uma imagem digital?”, introduzindo noções como persuasão, intenção e manipulação de conteúdo.

Com adolescentes, as lições exploram valores pessoais – como autenticidade, equilíbrio, justiça – e incentivam reflexões sobre o que é consumido nas redes sociais. “É um convite para que os jovens comparem seus valores com o que os algoritmos oferecem e decidam, com consciência, o que desejam manter ou recusar.”

Crédito: Ana Luísa D’Maschio VAR, Verifique Antes de Repassar, é tema de oficina de educação midiática. Relembre a matéria

Pessoas idosas e debate digital

Um dos temas tratados por Merve foi a urgência de incluir a população 60+ nas políticas de educação midiática. Segundo a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o percentual de pessoas com 60 anos ou mais que usam a internet no Brasil saltou de 24,7% em 2016 para 66% em 2023. Apesar do avanço, muitos ainda relatam dificuldades para acessar aplicativos de saúde, bancos e serviços públicos digitais.

Para ele, a inclusão digital precisa ser intergeracional: “Se queremos inclusão digital de verdade, ela precisa ser intergeracional. Educação midiática não é só para crianças – é para todos.”

Ao encerrar sua fala, Merve reforçou a necessidade de uma abordagem sistêmica. “Educação midiática não é uma tendência – é uma urgência. Se trabalharmos juntos, com diálogo, escuta e intencionalidade, podemos garantir que as crianças e também os adultos cresçam conectados, protegidos e preparados para transformar o mundo.”

Perguntas gerais

Na sessão de perguntas, Merve Lapus respondeu às dúvidas do público e reforçou que a educação midiática precisa ser construída em parceria entre famílias, escolas, mídia e plataformas digitais.

Como combater o medo dos pais de falar sobre tecnologia com os filhos?
Segundo Merve, muitos adultos só abordam o tema quando algo dá errado, o que pode afastar as crianças. “É essencial conversar sempre, não só quando há um problema. O diálogo contínuo fortalece a confiança. As crianças precisam saber que podem contar com os adultos também quando estão em dúvida ou com medo e não apenas quando erram.”

Qual o papel do jornalismo na educação midiática?
Para ele, o jornalismo precisa oferecer informações confiáveis e também representar os jovens de forma autêntica. “Se eles não se virem nas histórias, não vão confiar. É preciso garantir que suas vivências estejam presentes e não tratá-los apenas como espectadores.”

Como engajar as plataformas digitais na educação?
Merve defende que as chamadas big techs — grandes empresas de tecnologia como Google, Meta e TikTok — devem dar mais visibilidade a iniciativas educativas e explicar como funcionam seus algoritmos, ou seja, os sistemas que definem o que cada usuário vê nas redes. “A transparência é o primeiro passo para o uso consciente”, afirmou.

Como trazer as redes sociais para o currículo escolar?
Segundo ele, as escolas devem ensinar como os algoritmos moldam os feeds (área infinita de posts, vídeos e fotos que você vê quando abre redes sociais como Instagram, TikTok ou Facebook) e como os dados dos usuários são coletados e utilizados. “Precisamos mostrar que as redes sociais influenciam comportamentos e que é possível usá-las com responsabilidade e intenção.”






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