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25/07/2025

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Ensine com cinema, ferramentas e dinâmicas audiovisuais de forma criativa


O cinema brasileiro vive um momento histórico. O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, já acumula mais de 40 prêmios internacionais, 5 milhões de espectadores e conquistas inéditas: em 2025, pela primeira vez, uma produção nacional venceu o Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional.

Outro marco emocionante foi protagonizado por Fernanda Torres, que, 25 anos depois, seguiu os passos da mãe, Fernanda Montenegro, ao ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz. Ela também foi reconhecida com o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama por sua interpretação de Eunice Paiva.

Mais recentemente, o longa “O Agente Secreto”, dirigido por Kleber Mendonça Filho e estrelado por Wagner Moura, foi duplamente premiado no Festival de Cannes, na França. A produção recebeu o Prêmio da Crítica, concedido pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica, que reúne críticos de mais de 50 países, e rendeu a Wagner Moura o prêmio de Melhor Ator por sua atuação no filme. Com classificação indicativa de 16 anos, o longa tem estreia prevista nos cinemas brasileiros para novembro.

Essas conquistas reforçam a força e a relevância do cinema nacional no cenário internacional. E ganham ainda mais simbolismo neste 19 de junho, Dia do Cinema Brasileiro. A data marca a primeira filmagem registrada no país. Em 1898, o cinegrafista Afonso Segreto capturou imagens da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, inaugurando oficialmente a trajetória do cinema no Brasil.

O cinema pode ser uma poderosa ferramenta de aprendizagem no ambiente escolar. As obras audiovisuais contam histórias, trazem representatividade e cumprem um papel educativo ao provocar reflexões, ampliar o repertório cultural e estimular o pensamento crítico.

Nesta reportagem, o Porvir ouviu o ator e roteirista Igor Luiz, que compartilha formas de levar o cinema e as obras audiovisuais para a sala de aula, tornando o processo de ensino mais lúdico e envolvente. Igor, que também é diretor de curtas-metragens, vai mediar a mesa “Temas difíceis com arte: teatro e audiovisual como aliados da escola”, no Festival Encontro com o Porvir, no próximo sábado, 21 de junho. Inscreva-se já!

Cinema na escola: trabalhe em equipe

A realização de uma obra audiovisual exige, na maioria das vezes, um esforço coletivo. Diversas funções, muitas vezes menos visíveis do que a atuação dos atores, são fundamentais para o resultado final, como a captação de um bom áudio, roteiro, técnicas de filmagem e outros elementos imprescindíveis. Cada função tem um papel essencial dentro de uma produção.

Para exemplificar, Igor cita um dos vídeos da produtora Porta dos Fundos, chamado “Corte de Gastos”. Em tom de humor, os atores começam demitindo membros da equipe, e, com isso, o vídeo perde justamente os aspectos técnicos atribuídos a cada função cortada. De forma divertida, o vídeo deixa claro o quanto cada função é indispensável dentro de uma produção audiovisual.

O vídeo pode ser um ótimo ponto de partida para despertar o interesse dos alunos por essas áreas e incentivá-los à pesquisa. Cada função técnica exige estudo sobre aspectos como tempo, espaço e contexto, além de propor soluções criativas para uma obra.

Igor explica que um filme é o resultado de um pensamento em equipe. Quando o cinema é levado à escola, é importante explicar que cada pessoa que contribui se sente representada naquele trabalho final. E essa é a magia do cinema, reforça ele: como uma ideia se materializa por meio do cruzamento de ideias e, ao final, esse filme ainda consegue provocar sentimentos únicos em quem assiste.

Filme e edite na escola

O primeiro passo é entender que o cinema é itinerante e não depende exclusivamente de materiais ou estruturas complexas. Por meio de um celular, muitas coisas podem ser feitas, inclusive produções audiovisuais. O aparelho que está na palma da mão dos adolescentes pode ser uma ferramenta poderosa, democratizando o acesso e o conhecimento necessários para realizar produções.

Professores e estudantes interessados em realizar projetos audiovisuais na escola podem enfrentar um desafio importante: a edição. Ela pode ser uma barreira tanto para quem não tem afinidade quanto para quem não conhece ferramentas específicas.

Confira alguns aplicativos que facilitam esse processo:

Invista nas dinâmicas

Existem muitas atividades práticas e divertidas que podem ajudar alunos e professores a desenvolverem o pensamento audiovisual. Três boas sugestões são:

Câmera pinhole. Usando uma caixa de papelão opaca e completamente vedada, faz-se um pequeno furo (estenopo) em uma das faces. A luz que entra por esse furo projeta uma imagem invertida na parede oposta da caixa, onde se coloca um papel translúcido, como papel vegetal. A atividade ajuda os alunos a entenderem como a luz se comporta e como as imagens se formam nas câmeras.

Light painting (desenho com luz). Com a câmera ou celular em modo de longa exposição, as luzes movimentadas em frente à lente deixam rastros, como se fossem pincéis de luz no ar. É possível utilizar lanternas, celulares ou bastões de LED para desenhar no escuro. A dinâmica ajuda a entender como a câmera capta e absorve luz, além de gerar fotos criativas e divertidas.

Stop motion. Técnica de animação que cria movimento a partir de uma sequência de fotografias de objetos em pequenas mudanças de posição. A cada clique, um novo quadro é formado. Ao juntar 24 dessas imagens, por exemplo, se obtém 1 segundo de vídeo com fluidez. Os alunos podem criar personagens com recortes, colagens, massinha ou bonecos de papel, e também podem ser os próprios atores.

Igor comenta que esses são apenas alguns exemplos práticos que não exigem muitos materiais e, ao mesmo tempo, introduzem diferentes vertentes do que é o cinema. São ótimos caminhos para começar a usar o audiovisual como ferramenta pedagógica em aulas que podem ser extremamente criativas e envolventes.

Vá além das tradicionais sessões de cinema

Não é incomum que professores utilizem filmes, animes e outros conteúdos audiovisuais para gerar reflexões e dialogar com os temas trabalhados em sala. Igor explica que o primeiro passo do cinema na escola é evitar a lógica do “passar um filme só para preencher o tempo”.

Ele reforça que é importante que o conteúdo esteja conectado com os temas que os estudantes estão aprendendo, ou, melhor ainda, com aquilo que estão vivenciando. Um filme, quando bem escolhido e contextualizado, pode abrir caminhos para discussões profundas sobre sociedade, história, emoções, identidade e tantos outros temas.

O ideal é que a obra faça parte de um projeto que vá além do simples assistir. As rodas de debate são uma estratégia poderosa para gerar reflexão e criar um campo fértil de ideias.

Igor destaca que o audiovisual transborda as telas do cinema. Quem acessa essas ferramentas adquire um universo de possibilidades em qualquer área de atuação.

Conecte o filme à sua aula

Um dos principais desafios dos professores para levar o cinema à escola é escolher um filme que converse diretamente com o conteúdo ou o tema da aula.

Igor explica que, muitas vezes, se cria a ideia de que os filmes precisam mapear um acontecimento e trazer informações de forma quase jornalística. Isso pode ser válido, dependendo da situação, mas há outros caminhos igualmente potentes.

Ele comenta que gosta de trabalhar com curtas-metragens que provocam mais do que explicam, que instigam o pensamento e geram discussões, em vez de oferecer respostas prontas.

Um exemplo disso é o curta “Ilha das Flores”, do cineasta Jorge Furtado, que usa humor e sarcasmo para acompanhar o ciclo de um tomate e, assim, fazer uma crítica contundente à desigualdade social. No curta, os porcos têm prioridade na escolha dos alimentos descartados, enquanto os moradores humanos ficam com as sobras. É uma provocação direta sobre a inversão de valores e o abandono humano.

Aposte nas parcerias

Expandir o olhar para além da tela é essencial para que os professores compreendam melhor a lógica audiovisual e os passos de uma produção. Isso abre um leque de possibilidades para ter cinema na escola, construir aulas, oficinas e projetos, convidando quem tem conhecimento prático no assunto.

Igor explica que existem muitas instituições e oficineiros que podem ser parceiros nesse processo. Por isso, é sempre bom mapear os coletivos e os equipamentos culturais que existem ao redor da escola. Assim, é possível oferecer experiências que sigam o princípio do aprender fazendo.

Convidar profissionais que atuam em projetos independentes para compartilhar seus processos com os alunos, especialmente por meio de oficinas, pode despertar um interesse genuíno pela criação e pela pesquisa audiovisual. Além disso, essa prática fortalece os vínculos entre escola, cultura e comunidade.


Conheça o diretor

Desde pequeno, Igor Luiz foi apaixonado por adaptações brasileiras, como filmes, novelas e também pela fotografia. Mesmo sem recursos, criava ensaios e fotografava com o que tinha ao seu alcance, como um celular antigo que usava na adolescência. Foi ali que começaram suas primeiras manifestações artísticas.

Criado no teatro, Igor é formado em cinema pelo Instituto Criar e transita entre os espetáculos teatrais e o audiovisual.

Em 2014, enquanto trabalhava como cuidador em um SAICA (Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes), ele descobriu sua verdadeira vocação. Depois de propor uma dinâmica com as crianças, usando massinhas para criar machucados falsos, surgiu a ideia de produzir um curta-metragem de zumbis. Igor distribuiu funções e deixou que as crianças assumissem a responsabilidade pela produção. O resultado foi um projeto coletivo que se tornou motivo de orgulho no SAICA.

“As crianças se viram em uma posição de autonomia e criação, o que gerou uma paixão enorme pelo projeto.” Essa vivência despertou em Igor uma paixão profunda e transformadora, consolidando seu desejo de seguir por esse caminho.

Em 2017, já formado no Instituto Criar, o roteirista produziu seu primeiro curta-metragem oficial, “Procurando Estrelas”, que aborda temas como bullying e gordofobia nas escolas. “Esse processo foi uma verdadeira cura para mim”, conta Igor. O filme se tornou um projeto que circulou por escolas e mostras de cinema, seguido de rodas de conversa sobre os temas tratados.

Assista ao curta-metragem “Procurando Estrelas” no YouTube:

Em 2018, para falar sobre bullying nas escolas e o poder do audiovisual no enfrentamento desse tema, Igor foi convidado a participar do programa “Encontro com Fátima Bernardes”. No mesmo ano, o curta também foi selecionado para o festival internacional “Ojo al Sancocho”, na Colômbia.

“No fim, entendi que esse sou eu. Contar histórias em prol da educação é a minha missão”, afirma o diretor.

Igor costuma encerrar suas apresentações com uma frase do cineasta Nelson Pereira dos Santos, um dos principais nomes do Cinema Novo brasileiro:

“O cinema brasileiro é a janela pela qual o mundo pode ver a nossa alma.”






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