A evasão escolar é o fenômeno em que os estudantes abandonam a escola antes do período regular para a formação. Esse é um problema que possui repercussões sérias no Brasil e no mundo, atingindo cerca de 251 milhões de crianças e de adolescentes. A evasão escolar tem causas diversas, e seus efeitos repercutem nos mais diversos espectros da vida destes estudantes, tanto no âmbito das relações de trabalho quanto no acesso a serviços e a direitos.
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Tópicos deste artigo
Resumo sobre evasão escolar
- A evasão escolar é um fenômeno que está relacionado ao abandono da formação educacional antes da sua conclusão.
- Ela é causada por um conjunto de fenômenos, entre os quais podemos destacar os aspectos socioeconômicos, estruturais e infraestruturas da educação.
- Ao abandonarem a escola, os estudantes perdem a capacidade de apreender e de dominar conhecimentos que lhes serão úteis no cotidiano, o que pode contribuir para a acentuação das desigualdades sociais.
- Segundo dados da Unesco, 251 milhões de crianças encontram-se fora da escola. Esse processo é acentuado em países com PIB baixo, como a África Subsaariana.
- No Brasil, as desigualdades regionais acentuam a evasão escolar. Regiões mais pobres tendem a possuir os maiores índices de evasão.
- Atualmente, segundo dados do IBGE, mais de 400 mil estudantes encontram-se fora da escola. O ensino médio é o nível com as maiores taxas de evasão.
O que é evasão escolar?
A evasão escolar é um fenômeno que atinge estudantes em todo o mundo e que pode ser compreendido como o abandono da escola antes de sua conclusão. Esse fenômeno pode ocorrer em qualquer fase do ensino e atinge indivíduos de diferentes idades.
Causas da evasão escolar
A evasão escolar tem causas diversas, que podem aparecer de forma integrada. Desse modo, pode-se observar que ela pode estar associada a aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos. Com base nisso, pode-se destacar, principalmente, os seguintes aspectos:
- Aspectos socioeconômicos: Um dos fatores que contribuem para a evasão escolar consiste na existência de condições socioeconômicas desiguais ou precárias. Esse processo faz com que os estudantes deixem de frequentar a escolar para dar prioridade a atividades produtivas, como o trabalho. Essa é uma das principais causas da evasão escolar, pois acaba impedindo que os estudantes consigam conciliar a formação educacional e o trabalho, em que o segundo prevalece.
- Aspectos estruturais e infraestruturas da educação: A estrutura educacional, muitas vezes amparada no formalismo e no currículo homogêneo e com infraestruturas precárias, acabam se tornando um elemento que contribui para a evasão escolar. Dessa forma, pode-se observar que os estudantes, ao se sentirem desestimulados e, muitas vezes, desamparados, acabam por deixar de vislumbrar na escola formas efetivas de aquisição de conhecimentos e, sobretudo, uma forma de superação das condições de desigualdade. Nesse sentido, a estrutura da educação brasileira, pautada no processo educacional em que os estudantes são compreendidos como indivíduos passivos, meros receptores do conhecimento, acaba por contribuir para um desestímulo na aprendizagem, o que favorece a perda de interesse por parte dos alunos. Por outro lado, a infraestrutura de muitas escolas, às vezes precárias, com ausência de professores e sem equipamentos adequados, contribui para que os estudantes não vislumbrem na escola a possibilidade de aquisição de conhecimentos importantes para a vida.
Consequências da evasão escolar
O abandono da formação educacional antes de sua conclusão tem efeitos diversos na vida dos estudantes. Nesse sentido, pode-se observar, no primeiro momento, que a evasão contribui para uma ausência de capacidades intelectuais e práticas que acompanharão a vida dos indivíduos. Isso porque determinados conteúdos assumem uma exigência para a vida social, como o uso de operações matemáticas básicas, o manejo correto e formal da língua e a capacidade de exercer o pensamento lógico-racional.
A ausência desses conhecimentos, por sua vez, tem a capacidade de impactar em diversos aspectos da vida desses indivíduos, como no âmbito profissional. Ao não possuírem a capacidade de operacionalizar a língua ou realizar operações matemáticas, estes acabam ocupando postos de trabalho mais precários e com menor remuneração.
Além disso, no âmbito das relações sociais cotidianas, a ausência de conhecimentos fornecidos pela educação contribui para dificuldades de comunicação, de acesso a tecnologias e de aplicação de conhecimentos matemáticos. Esse processo dificulta a vida dos indivíduos e são barreiras que impedem o acesso a direitos e a serviços, como, por exemplo, o uso da internet, a realização de compras, o acesso a serviços públicos e a resolução de problemas.
Diante disso, ao abandonarem a educação, os indivíduos são inseridos em um contexto de maior precariedade, uma vez que estes conhecimentos são importantes para os mais diversos aspectos da vida em sociedade. Desse modo, destaca-se que a evasão escolar constitui um problema não apenas de natureza pessoal ou individual, mas também estabelece interfaces com a coletividade, uma vez que estes indivíduos, ao não possuírem os conhecimentos necessários, enfrentam barreiras adicionais para acessar direitos e serviços públicos.
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Evasão escolar no mundo
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no “Relatório de Monitoramento Global da Educação”, embora tenha ocorrido um aumento na escolarização de crianças e jovens em todo o mundo, destaca-se que a evasão escolar ainda constitui um problema. Nesse contexto, verifica-se que 251 milhões de crianças e jovens encontram-se ausentes dos espaços escolares. Esse problema torna-se ainda mais agravante quando se observa que, em países emergentes ou em desenvolvimento, 33% das crianças e jovens estão fora da escola.
Com base nisso, observa-se que a evasão escolar no mundo atinge, principalmente, países emergentes e em desenvolvimento, sendo mais expressivo em países do continente africano, que conta, segundo dados do relatório, com 50% das crianças e dos jovens fora do ambiente escolar. Concomitantemente, verifica-se que, em países com renda alta, o número de indivíduos em idade escolar fora da escola compreende apenas 3% da população, o que permite estabelecer uma relação direta entre a permanência dos indivíduos na escola e a renda da população.
Diante disso, pode-se aferir que, em países com maior concentração de renda per capta, a evasão escolar é considerada um problema controlado, uma vez que esses indivíduos dispõem de oportunidades educacionais diversificadas e de ambientes com infraestrutura adequada, e as desigualdades de renda não exigem que estes procurem oportunidades de remuneração como forma de subsistência. Esse processo é sintomático em países europeus e nos Estados Unidos.
Evasão escolar no Brasil
A evasão escolar no Brasil apresenta um conjunto de características particulares e que estão relacionadas às especificidades regionais. Desse modo, pode-se destacar que a estrutura e a infraestrutura educacionais têm desempenhado um aspecto que contribui para a evasão escolar. Isso porque a construção de uma educação pautada em um processo de ensino-aprendizado focado no estudante apenas como um agente receptor do conhecimento pode desencadear a perda de interesse por parte dos estudantes.
Ao mesmo tempo, do ponto de vista da infraestrutura, destaca-se que a ausência de equipamentos tecnológicos e de laboratórios e a presença de estruturas com salas de aula precárias, sem manutenção ou condições de receber os estudantes, também são apontados como fatores que contribuem para a evasão escolar.
No entanto, pode-se evidenciar que, embora essas questões sejam partilhadas por regiões distintas do país, em estados que possuem renda per capita baixa, as taxas de evasão escolar tendem a ser maiores do que em estados com a renda per capita mais alta. Esse processo pode ser observado, sobretudo, em estados das regiões Norte e Nordeste.
Dados da evasão escolar no Brasil
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), embora a educação pública tenha se expandido consideravelmente e reduzido o número de evasões, a evasão escolar ainda é um problema persistente. De acordo com dados do Censo da Educação, publicado em 2023, cerca de 400 mil crianças e jovens, entre 6 e 14 anos, não estavam frequentando a escola em 2023.
A evasão escolar é acentuada no ensino médio, em que 63,7% dos estudantes não completaram este nível de ensino. Entre as causas apontadas, 53,5% afirma que o abandono ocorreu em virtude de responsabilidades de trabalho e de questões familiares, como a gravidez, que ocupa 32,6% dos motivos.
Além disso, pode-se observar que a pandemia de covid-19 contribuiu para o aumento da evasão escolar. Desse modo, destaca-se que as medidas de distanciamento social, a necessidade da educação mediada pela tecnologia e a ausência de interações presenciais contribuíram para que muitas estudantes abandonassem a escola, por motivos como a ausência de equipamentos que permitissem o acompanhamento síncrono e assíncrono das aulas, o desânimo e as incertezas quanto ao aprendizado ou a falta de perspectivas em relação ao futuro.
Como combater a evasão escolar?
O combate à evasão escolar é um processo que exige a participação de diversos agentes sociais, políticos e instituições. Desse modo, torna-se necessário não apenas garantir que estes estudantes permaneçam na escola, mas também garantir que estes disponham de condições de permanência. Nesse sentido, pode-se destacar, no primeiro momento, a necessidade de políticas públicas voltadas para o fortalecimento da estrutura educacional, o aprimoramento curricular, a formação e a valorização de professores. Concomitantemente, ainda no âmbito das políticas públicas, destaca-se a necessidade de investimentos na infraestrutura educacional, de aprimoramento tecnológico e de fornecimento de condições adequadas para o ensino.
Além disso, pode-se destacar que políticas de assistência social, como, por exemplo, o Bolsa Família, contribuem significativamente para o combate à evasão escolar. Esse processo acontece, sobretudo, porque exige que crianças e jovens estejam devidamente matriculados e com frequência superior a 75% para que tenham acesso aos repasses. Ao mesmo tempo, destaca-se programas como o Pé-de-Meia, que atua, sobretudo, no repasse financeiro a estudantes para que não precisem abandonar a escola para ingressar no mercado de trabalho.
Por fim, pode-se destacar a necessidade de construção de mecanismos que permitam uma maior integração entre a sociedade e a escola, de forma participativa e colaborativa. Esse processo pode contribuir, principalmente, para a identificação das causas da evasão e para o estabelecimento de uma atuação conjunta, de modo que seja possível reduzir estes casos.
Fontes
ESTEVES, Henrique Rosario Carvalho et al. Evasão escolar no ensino superior: uma revisão literária entre os anos de 2014 a 2020. Research, Society and Development, v. 10, n. 3, p. e21310313210-e21310313210, 2021.
FERREIRA, Sergio Guimarães; RIBEIRO, Giovanna; TAFNER, Paulo. Abandono e evasão escolar no Brasil. Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social, p. 1-40, 2022.
IBGE. Síntese de indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2024. IBGE, 2024. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/9221-sintese-de-indicadores-sociais.html.
UNESCO. Relatório de Monitoramento Global da Educação 2024. São Paulo, UNESCO, 2024. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000391406.