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08/07/2025

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Ir. Mary Lembo: “É preciso falar sobre abusos, mesmo que não seja fácil”


A religiosa e psicóloga africana esteve entre as palestrantes da Conferência Internacional “Mulheres de Fé, Mulheres de Força”, realizada nestes dias na Pontifícia Universidade Gregoriana, sobre o tema mulheres e proteção. A freira falou sobre seu trabalho para dar voz às mulheres consagradas na África vítimas de violência por parte de sacerdotes: “Antes, era um tabu total, agora é mais fácil falar sobre isso e o assunto também é abordado nos debates eclesiais.”.

Anne Preckel – Cidade do Vaticano

“Women of Faith, Women of Strength”. “Mulheres de fé, mulheres de força” é o título da Conferência Internacional, realizada de 17 a 19 de junho na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, com foco nos temas mulheres e tutela.

Entre as palestrantes estava a Irmã Mary Lembo, religiosa do Togo, pioneira na conscientização sobre o problema dos abusos. Ela abordou a questão da violência sofrida por freiras por parte de sacerdotes na África. Psicóloga e professora em Roma no Instituto para a Salvaguarda do IADC da Gregoriana, Lembo escreveu uma tese de doutorado sobre o tema, que também inclui depoimentos de vítimas em cinco países africanos.

A religiosa explica que é difícil estabelecer a extensão do problema no continente, “porque não existem estudos quantitativos”. No entanto, esse tipo de abuso – diz ela – é uma “realidade” que precisa ser enfrentada: “É um problema que exige apoio e incentivo para que as mulheres se manifestem, falem sobre ele e denunciem os casos. Mesmo que não seja fácil”.

Encorajamento do Papa Francisco

 

Quando ela estava concluindo sua pesquisa em 2019, o tema do abuso de mulheres consagradas na África era uma realidade oculta. Nesse contexto, ela se sentiu reconfortada pelo fato de o Papa Francisco ter falado sobre o assunto publicamente pela primeira vez. “Eu estava quase exausta, não era fácil falar a respeito. Assim, suas palavras foram um incentivo para eu continuar. Esses abusos são uma realidade que devemos enfrentar na Igreja, para que a Igreja viva na verdade.”

Ainda em 2019, a primeira cúpula internacional sobre a proteção de menores foi realizada no Vaticano. Pouco depois, o Papa Francisco emitiu novas normas para combater o abuso sexual de menores e pessoas vulneráveis. No documento “Vos estis lux mundi“, o termo “pessoa vulnerável” também incluía adultos cuja vontade ou “capacidade de resistir à ofensa” é limitada.

Realidade oculta

 

Irmã Lembo dedicou vários anos em busca de um número suficiente de vítimas para sua pesquisa, dispostas a compartilhar suas experiências. Não porque as vítimas são poucas, mas porque o medo e a vergonha impedem muitas mulheres de se abrirem com alguém. Na Igreja e nas sociedades africanas, a sexualidade quase nunca é discutida, explica irmã: para “as religiosas consagradas a Deus e consideradas santas”, o tema é sério e um duplo tabu.

A pedido das próprias vítimas, a Irmã Lembo não mencionou os nomes ou países de origem das religiosas que sofreram abusos: “Elas tinham medo do que aconteceria com elas, suas famílias, sua congregação e até mesmo suas comunidades. Ao falarem comigo, arriscaram tudo para ajudar outras mulheres. Então, nada de nomes, tenho que respeitá-las”.

Entender o contexto

 

A Irmã Lembo, durante as entrevistas, ouviu falar sobre “vários tipos de abuso em relação ao acompanhamento espiritual”. Tudo começa, muitas vezes, com o abuso de poder, “porque existe uma relação assimétrica entre quem presta aconselhamento e quem pede orientação espiritual ou confissão”. Alguns sacerdotes haviam também se aproveitado da dependência econômica das irmãs “para exercer pressão, estabelecer ou forçar contato sexual”. As vítimas também relataram à psicóloga abusos físicos e espirituais.

A Irmã Mary também enfatiza outro aspecto importante, a saber, o fato de que nenhuma das religiosas abusadas tinha a intenção de violar os próprios votos. Os perpetradores de abuso frequentemente exercem pressão psicológica sobre suas vítimas, manipulam ou anulam sua vontade; em tais circunstâncias, não apenas crianças, mas também adultos, especialmente em condições frágeis, podem se tornar vítimas. Isso também é favorecido pela exploração do trabalho e pela dependência dos sacerdotes. Com seu trabalho de conscientização, a Irmã Lembo quer, portanto, contribuir para melhorar a formação de seminaristas e das religiosas. Porque, se são conhecidas as circusntâncias dos abusos, é possível mudá-las.

Sinais positivos na África

 

A Irmã Lembo observa com satisfação o fato de que hoje é mais fácil falar sobre este tema na África do que há alguns anos. Também outras religiosas africanas começaram a levar o tema para o debate eclesial, que começa a se expandir.

Recentemente, a Conferência das Superioras Maiores da África e Madagascar (COMSAM), na Zâmbia, solicitou à Igreja africana que interviesse sobre o problema com transparência e justiça. A COMSAM é uma confederação instituída pela SECAM (Associação das Conferências Episcopais da África e Madagascar) e trabalha em estreita colaboração com o Dicastério do Vaticano para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Além disso, este ano, pela primeira vez, representantes de ordens religiosas femininas africanas foram convidadas a representar seus interesses diretamente na Assembleia Geral da SECAM. E, nos últimos anos, muitas Conferências Episcopais Africanas emitiram ou reforçaram diretrizes para a proteção de menores e estão conscientizando sacerdotes e agentes pastorais sobre a questão dos abusos. Isso constitui uma boa base para agir também contra os abusos contra as religiosas. “Devemos avançar e apoiar todas as medidas adotadas pela Igreja na área da salvaguarda”, conclui a Irmã Mary Lembo, “é um processo”.

Um processo irreversível

 

No Vaticano, a questão foi abordada no Sínodo sobre a Sinodalidade em outubro passado. O sínodo pediu maior proteção das religiosas contra abusos. Em relação ao abuso espiritual, o Dicastério para a Doutrina da Fé criou um grupo de trabalho para examiná-lo como crimes eclesiásticos. Abordar a questão é um processo irreversível, “para que a Igreja viva na verdade”.



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