João Paulo II surpreendeu o mundo em 1990 quando publicou uma ousada e original Mensagem para o Dia Mundial da Paz: ‘Paz com Deus Criador, Paz com toda a Criação’. O Papa Francisco, 25 anos depois, publicou a ‘Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum. Para celebrar estes dois textos inspiradores, o Papa Leão XIV aprovou a nova fórmula de orações para a Missa pela Proteção da Criação.
Por Tony Neves, em Roma
Numa conferência de imprensa, a 3 de julho, foi publicada esta notícia, acompanhada de explicações relevantes. Esta é a 50ª Missa para ‘diversas necessidades e ocasiões’ que constam no Missal Romano. Junta-se às 20 que dizem respeito à Igreja, às 17 relativas a necessidades civis e às 12 para diversas circunstâncias. A razão mais profunda desta ‘Missa pela proteção da Criação’ reside no facto do mundo viver numa situação de grave crise ecológica e ambiental.
O Papa Leão XIV celebrou, oficialmente, a 9 de julho, a primeira Missa seguindo este formulário. Simbolicamente escolheu o ‘Borgo Laudato Si’, criado nos Jardins de Castelgandolfo em 2023. Assim, estando em férias nesta vila junto ao Lago Albano, Leão XIV presidiu à Missa Campal (na ‘catedral natural’, assim chamou!) alertando para a necessidade de cuidar da Criação. Começou, num improviso, por pedir orações pela conversão de quantos, dentro e fora da Igreja, ainda não reconhecem a urgência de cuidar da casa comum. Considerou urgente esta conversão, num tempo em que muitos desastres são, em parte, causados pelos excessos do ser humano, com o seu estilo de vida.
Quis Leão XIV que esta celebração fosse um momento familiar e sereno, mas a acontecer ‘num mundo que arde, tanto pelo aquecimento global como pelos conflitos armados, que tornam tão atual a mensagem do Papa Francisco nas suas encíclicas ‘Laudato Si’ e ‘Fratelli Tutti’.
O Evangelho que apresenta Cristo a acalmar a tempestade aponta para a confiança num Deus que ‘domina as forças diante das quais as criaturas se sentem perdidas’. Lembrou o Papa: ‘A nossa missão de guardar a Criação, de levar-lhe paz e reconciliação, é a sua própria missão: a missão que o Senhor nos confiou. Ouvimos o grito da terra, ouvimos o grito dos pobres, porque este grito chegou ao coração de Deus. A nossa indignação é a sua indignação, o nosso trabalho é o seu trabalho’.
Os desafios ecológicos são enormes e os adversários são muitos, alicerçados em interesses altamente rentáveis. Mas – lembra o Papa – ‘a aliança indestrutível entre o Criador e as criaturas, de facto, mobiliza a nossa inteligência e os nossos esforços, para que o mal se transforme em bem, a injustiça em justiça, a ganância em comunhão’. Tal exige um olhar contemplativo. Só este ‘nos pode fazer sair da crise ecológica que tem como causa a rutura das relações com Deus, com o próximo e com a terra, por causa do pecado’.
Naqueles belos e simbólicos Jardins do Palácio Papal de Castelgandolfo, o Borgo Laudato Si pretende ser um espaço de formação e conscientização sobre os temas da proteção da Casa Comum, confiado ao Centro de Ensino Superior Laudato Si, um organismo científico, educativo e de atividade social. Neste ‘Borgo’ tenta-se aplicar os princípios gravados nesta encíclica social. Quando Leão XIV visitou, a 29 de maio, pela primeira vez, Castelgandolfo, quis conhecer de perto esta iniciativa e ficou muito agradado com ela. Daí ter decidido celebrar ali a 1ª Missa pela Proteção da Criação.
No final da homilia, o Papa disse: ‘o Borgo Laudato Si, onde nos encontramos, quer ser, por intuição do Papa Francisco, um ‘laboratório’ no qual viver aquela harmonia com a criação que é, para nós, cura e reconciliação, elaborando formas novas e eficazes de proteger a natureza que nos foi confiada’.
E, como bom Agostiniano, Leão XIV, concluiu com uma frase célebre dos escritos de S. Agostinho: ‘Ó Senhor, as tuas obras te louvam para que te amemos, e nós te amamos para que as tuas obras te louvem!’. Os votos finais são estimulantes: ‘Que esta seja a harmonia que espalhamos pelo mundo’.
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