Live aborda desafios, diagnóstico e inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Miraí (MG), 9 de julho de 2025 — Em entrevista transmitida ao vivo pela Rádio 99 Play, Bárbara Alonso, mãe de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), compartilhou sua experiência pessoal com o diagnóstico do filho e os impactos emocionais, sociais e estruturais que essa realidade impõe às famílias atípicas. A conversa teve como foco a conscientização, o acolhimento e o enfrentamento dos desafios enfrentados por pais de crianças autistas, especialmente em cidades do interior como Miraí e Muriaé.
Durante a transmissão, Bárbara relatou como foi receber o diagnóstico, descrevendo o momento como “um divisor de águas”, e destacou o abalo emocional vivido pela família. “É um luto simbólico, por uma expectativa que é desconstruída”, afirmou. Segundo ela, a aceitação por parte de familiares, amigos e instituições de ensino ainda é um obstáculo considerável.
A entrevista também abordou os níveis do autismo, classificados em leve, moderado e severo, conforme critérios definidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Bárbara ressaltou que, no caso de seu filho, o nível leve exigiu atenção precoce a sinais sutis, como dificuldade de interação social e hipersensibilidade a estímulos.
Outro ponto discutido foi o uso de medicamentos no tratamento do TEA. Bárbara relatou que, sob orientação médica, o filho faz uso controlado de fármacos para tratar sintomas associados, como irritabilidade ou ansiedade. “O acompanhamento com neurologista e psiquiatra é indispensável. Não existe automedicação segura nesse contexto”, alertou.
A conexão entre mãe e filho foi relatada com sensibilidade. Bárbara descreveu a rotina de cuidados, os desafios da comunicação e os avanços conquistados com terapias comportamentais. “A conexão vem no olhar, no gesto. É preciso aprender a linguagem dele”, disse.
A live também trouxe à tona o debate sobre a inclusão social. Bárbara destacou barreiras como o preconceito, a falta de acessibilidade e a invisibilidade das pessoas autistas em espaços públicos e educacionais. “Ainda se espera que a criança se adapte ao sistema, quando deveria ser o contrário”, pontuou.
No contexto regional, a mãe expôs dificuldades na busca por diagnóstico e atendimento especializado em Muriaé, cidade-polo da Zona da Mata mineira. Apesar de avanços pontuais, ela ressaltou a carência de centros de referência e a necessidade de mais profissionais capacitados. “Muitas vezes, a triagem inicial é feita por educadores, e nem sempre há preparo”, afirmou.
Por fim, a entrevistada destacou o papel essencial dos grupos de mães atípicas de Miraí, que promovem apoio mútuo, trocas de experiências e articulação por direitos. Esses coletivos, embora informais, têm atuado como redes de acolhimento fundamentais diante da ausência de políticas públicas robustas.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil possui cerca de 2 milhões de pessoas diagnosticadas com TEA, número que cresce com o aumento da conscientização e do acesso ao diagnóstico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada 100 crianças no mundo está no espectro autista.
Especialistas alertam que a inclusão efetiva de pessoas com TEA exige mudanças estruturais. “É preciso formar professores, adaptar ambientes e ampliar o acesso à saúde multidisciplinar”, afirma a neuropediatra Fernanda Gonçalves, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A entrevista, ao colocar em evidência a realidade das mães atípicas e suas crianças, reforça a urgência de políticas públicas mais eficazes e da mobilização social por um futuro mais inclusivo. “A sociedade precisa parar de olhar para o autismo como um problema. É uma condição, e essas crianças têm muito a ensinar”, concluiu Bárbara Alonso.