Na semana mundial de luta contra o tráfico de seres humanos, a Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados (CEMIRDE) da Arquidiocese de Nampula, norte de Moçambique, reforça acções de sensibilização em escolas, paróquias e comunidades. Jovens e mulheres são os principais alvos das redes de tráfico, numa província tida como corredor de passagem para este crime.
Cremildo Alexandre – Nampula, Moçambique
A província de Nampula está no centro das atenções nesta semana dedicada à luta contra o tráfico de seres humanos. A CEMIRDE – Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados – reforça o seu papel como voz profética de alerta, prevenção e mobilização da sociedade contra este crime silencioso, mas devastador.
Charles Moniz, coordenador da Comissão, lembra que o tráfico de pessoas “é uma realidade em Moçambique, especialmente em Nampula, e não uma falácia”. A CEMIRDE denuncia que muitos casos permanecem ocultos por falta de denúncia ou por medo. “Muitos são abafados nos bairros”, alerta.
Durante esta semana, a CEMIRDE está a trabalhar com comunidades e instituições locais, incluindo escolas e paróquias, como a de São João Baptista, onde será realizada uma acção especial de sensibilização com jovens. Entre os grupos envolvidos destaca-se o Jean-Josephine Bakhita, cuja padroeira representa um símbolo de luta contra o tráfico humano.
Além das palestras e sessões de sensibilização, no dia 30 de julho – Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas – está prevista uma marcha organizada pelo grupo de referência coordenado pela Procuradoria e com o envolvimento de várias instituições estatais e civis, incluindo a Polícia, Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), comunicação social e organizações da sociedade civil.
Moniz sublinha que a pobreza, a vulnerabilidade e a ilusão de um estilo de vida fácil, muitas vezes alimentado pelas redes sociais, são os principais factores que tornam sobretudo as jovens raparigas alvos fáceis. “O desejo de aparentar o que não se é leva muitas vezes ao aliciamento por parte dos traficantes, que não têm rosto e prometem uma vida melhor”, afirma.
Em 2023, a CEMIRDE acompanhou um caso no distrito de Angoche, onde um pai tentou traficar o próprio filho. Este ano, dois novos casos foram identificados em Mugovolas e Murrupula, mas o número real poderá ser muito maior.
Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados (CEMIRDE)
No campo dos refugiados, a situação é igualmente delicada. Os apoios foram drasticamente reduzidos, e muitos vivem em situações precárias. Os programas de reinstalação em países como os Estados Unidos e Canadá estão suspensos, e Moçambique deixou de aceitar novos refugiados.
Relativamente aos deslocados internos de Cabo Delgado, alguns conseguiram reintegrar-se em Nampula, enquanto outros optaram por regressar às suas zonas de origem, ainda que as condições de segurança permaneçam incertas.
Charles Moniz termina com um apelo directo às comunidades, especialmente aos jovens: “Sejam vigilantes. O tráfico humano e de órgãos é uma realidade. Desconfiem de propostas fáceis. Denunciem. Prevenir é salvar vidas”.