Um jornalista me perguntou sobre o chamado “apagão sexual”: o fato de os jovens da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), estarem fazendo menos sexo do que seus pais ou avós da geração X (nascidos entre 1965 e 1981) quando tinham a mesma idade.
É importante lembrar que a geração X foi protagonista da revolução sexual dos anos 1960 e 1970, da chegada da pílula anticoncepcional e do divórcio. É uma geração que experimentou o sexo como uma verdadeira libertação. E, naquela época, não existia internet e celular.
De acordo com uma pesquisa da psicóloga Jean W. Twenge, da San Diego State University, os membros da geração X tiveram cerca de 10 parceiros sexuais ao longo da vida, enquanto os membros da geração Z estão tendo cerca de cinco parceiros. Outro estudo, realizado pelo Instituto Karolinska na Suécia, concluiu que 30% dos rapazes entre 18 a 24 anos não fizeram sexo em um período de um ano.
Especialistas explicam que a falta de sexo na “vida real” estaria associada ao tempo que os jovens ficam online e com o fácil acesso a sites de pornografia, entre outras razões (individualismo, isolamento social, conflitos familiares, vontade de ganhar dinheiro e de ser famoso etc.). No “mundo real”, o sexo exige muito mais esforço, intimidade e desempenho, coisas que os jovens não precisariam ter no “mundo virtual”. Vale a pena destacar que os brasileiros passam, em média, 9 horas e 17 minutos por dia online.
Quando passei alguns meses na Alemanha, em 2007, dando palestras sobre “O corpo como capital na cultura brasileira”, muitas mulheres me contaram que não existia mais sexo em seus casamentos. Elas achavam normal a ausência de sexo em um casamento de muitos anos. E davam mais importância ao companheirismo, aos projetos de vida, aos interesses profissionais, intelectuais e culturais.
Sobre a importância do sexo? Elas disseram que o sexo não era tão relevante assim. Pensei, naquele momento, que um “casamento sem sexo” seria inimaginável no Brasil.
Afinal, casais podem ser felizes sem sexo?
Recentemente, uma queixa da Fernanda Lima, 48, no podcast “Surubaum”, viralizou. Casada há mais de 20 anos com Rodrigo Hilbert, 45, ela disse que não está “rolando sexo”: “O sexo não está fácil. É que a vida vai ficando muito corrida”.
Na minha pesquisa de pós-doutorado em psicologia social sobre envelhecimento, autonomia e felicidade, muitas mulheres de mais de 50 anos afirmaram ter um “casamento sem sexo”. A maioria disse que se “aposentou sexualmente” com a chegada da menopausa. Outras disseram que a pandemia destruiu completamente o tesão. E ainda aquelas que fingem ter um orgasmo porque estão tão exaustas e estressadas que preferem dormir a fazer sexo. Quase todas tinham um vibrador para chamar de seu e duas tinham “amantes virtuais”. Elas estão ou não no “apagão sexual”? Sexo com vibrador ou online não é “sexo de verdade”?
No livro “A arte de gozar: amor, sexo e tesão na maturidade”, mostrei que homens e mulheres ainda alimentam o mito de que o Brasil é o país “campeão do sexo”. Mas será que essa realidade está mudando com o “apagão sexual”? Será que, como disse Rita Lee, “velho não quer trepar; velho quer ter tesão na alma”? E será que agora os jovens também não querem trepar; querem ter tesão na alma, mesmo que o tesão seja online?
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.