A IA também atua como forma de proteção: sensores e câmeras inteligentes podem ser instalados em residências de idosos que moram sozinhos, detectando quedas e emitindo alarmes para familiares
Se você não sabe o que é inteligência artificial, este artigo é uma oportunidade de aprendizado para você que está lendo esta notícia, seja em um momento de pausa ou enquanto busca uma informação extra. IA é uma tecnologia que permite que máquinas realizem tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana, como aprender, compreender, resolver problemas e tomar decisões.
A IA como companheira no dia a dia dos idosos
Você sabia que a IA pode ajudar seu familiar idoso em sua rotina diária? Ela tem se mostrado uma aliada promissora no enfrentamento da solidão entre idosos, especialmente ao criar pontes de comunicação, estimular o engajamento social e oferecer suporte emocional e cognitivo. A IA tem se tornado um verdadeiro companheiro para muitos idosos:
- Antes: a solidão na terceira idade era vista como inevitável — perda de cônjuges, filhos distantes, mobilidade reduzida, aposentadoria e isolamento físico. O contato limitado gerava lacunas nas redes sociais e no apoio emocional.
- Hoje: a acessibilidade ao celular, à internet, às videochamadas, aos grupos online e, mais recentemente, aos assistentes e companheiros virtuais baseados em IA promovem interação constante, fornecem lembretes, jogos cognitivos e companhia virtual.
A solidão entre idosos é um crescente problema de saúde pública, com impacto significativo tanto na saúde física quanto mental. O avanço da IA fez com que idosos tivessem companhia em casa, mesmo quando não há outros seres humanos por perto. Assistentes virtuais como Alexa e Google Assistente interagem com os idosos, “conversam”, contam piadas, lembram compromissos e informam horários de medicamentos contínuos, além de ajudar a estimular o cognitivo em momentos de solidão.
Benefícios, implicações e desafios da IA para idosos
A IA também atua como forma de proteção: sensores e câmeras inteligentes podem ser instalados em residências de idosos que moram sozinhos, detectando quedas ou situações anormais e emitindo alarmes para familiares ou serviços de emergência. Os avanços tecnológicos permitiram ainda o desenvolvimento de relógios inteligentes que monitoram sinais vitais (como pressão, frequência cardíaca e saturação) e identificam anormalidades precocemente, prevenindo possíveis intercorrências graves.
Outro benefício relevante da IA para os idosos é a conversão de textos em áudio e o oferecimento de dados em texto, auxiliando aqueles com dificuldade de visão ou audição. Isso permite que o idoso mantenha sua qualidade de vida e interação com o meio, continuando a realizar tarefas que, na juventude, lhe proporcionavam prazer.
A solidão em idosos não é apenas uma sensação subjetiva de isolamento; ela é uma condição que pode trazer consequências sérias para a saúde. Estudos apontam que o isolamento social e a solidão estão associados ao aumento do risco de doenças e até mesmo à mortalidade precoce.
A solidão está relacionada ao aumento da pressão arterial e a maior risco de doenças cardíacas, como infarto e AVC. O estresse crônico causado pela solidão pode enfraquecer a resposta imunológica, aumentando a suscetibilidade a infecções. O isolamento social é um fator de risco para fragilidade, quedas, desnutrição e perda funcional. Muitos idosos solitários apresentam distúrbios do sono, agravando outras condições clínicas.
A solidão é um fator de risco significativo para transtornos depressivos e ansiosos em idosos. O isolamento social se associa ao declínio das funções cognitivas e ao aumento do risco de desenvolver demência, inclusive Alzheimer. Além disso, a solidão reduz a participação em atividades significativas, podendo levar à perda de propósito e satisfação com a vida. Com menos suporte social, o idoso pode encontrar mais dificuldade para manter sua independência nas atividades do dia a dia.
O sentimento de solidão pode reduzir em até 15 anos a expectativa de vida do idoso, além de aumentar em até 50% o risco de demência.
Atualmente, vemos que “robôs humanos” estão mais disponíveis, sem restrições geográficas ou de horários, e muitas vezes oferecem respostas mais empáticas e positivas aos idosos. Por outro lado, a dependência excessiva dessas tecnologias pode levar o idoso a reduzir totalmente a busca por companhia humana, dependendo do acolhimento emocional que recebe de seus familiares.
Questões éticas e o futuro do cuidado
Mas quais seriam os desafios éticos da IA?
- Privacidade de dados pouco confiável? Muitos idosos têm dificuldade para entender os limites da IA. É crucial garantir que saibam que estão interagindo com máquinas e possam consentir livremente com isso.
- Perda de autonomia em relação às escolhas? Existe o risco de que a IA seja utilizada como substituto — e não complemento — das relações humanas, o que pode agravar o isolamento em vez de resolvê-lo.
A inteligência artificial, quando utilizada com responsabilidade e sensibilidade, pode ser uma poderosa aliada no combate à solidão entre idosos. No Brasil, os desafios são grandes — e as possibilidades, igualmente promissoras. É fundamental investir em soluções inclusivas, éticas e culturalmente adequadas, para que os companheiros virtuais se tornem verdadeiros aliados na promoção de um envelhecimento mais digno, ativo e conectado.
*Por Dra. Julianne Pessequillo – CRM 160834 // RQE: 71895
Geriatria e clínica médica – longevidade saudável